Praça e Monumento a Mousinho em Lourenço Marques - introdução e fotos (1/18)

O texto seguinte fundamentalmente segue o artigo de Gerbert Verheij "Monumentalidade e espaço público em Lourenço Marques nas décadas de 1930 e 1940" e a tese associada. São trabalhos de sociologia sobre temas como aura, alegoria, ritos, representações, encenações, cultos, narrativas por isso muito especializados e "pesados" para leigos, para além de transportarem as visões sociais e políticas do autor e/de quem o orientou.  Para efeitos de HoM o trabalho foi competente no que respeita aos aspectos históricos e de construção que são aqui utilisáveis, por isso os cumprimentos e agradecimentos ao autor. 
Mousinho de Albuquerque foi o chefe militar português que derrotou os revoltosos africanos Gungunhana (grafias variam) em 1895 e Maguiguane em 1897, o que possibilitou o desenvolvimento da cidade de Lourenço Marques (LM), actual Maputo. Desde 1916 havia intenção de se lhe erigir um monumento ao cimo da Avenida Aguiar (depois D. Luis, actual Samora) e em 1935 reuniram-se os fundos necessários. O concurso foi ganho pela proposta realista, sóbria e académica do Arq. António do Couto e do escultor José Simões de Almeida (sobrinho). Para além da estátua equestre sobre um plinto e cujo modelo foi uma fotografia, o monumento tinha dois baixos relevos em bronze: um com a com a prisão de Gungunhana em Chaimite e outro com a carga de cavalaria de Macontene. Na face sul havia uma figura europeia feminina com um(a) jovem africano(a) que seria a homenagem da Câmara de LM a Mousinho.
Um novo edifício para a Câmara Municipal estava previsto desde o fim dos anos 20 para uma nova praça monumental a abrir no que tinha sido a zona do primeiro Hospital como já começou a ser explicado aqui. Em 1931 decidiu-se também levantar aí a nova Catedral Católica em terreno oferecido pela Câmara. Mas só em 1935 os projectos começaram, a Catedral foi executada de 1936 a 1944 e a Câmara de 1940 a 1947. A estátua e e a Praça incluindo iluminação foram inauguradas em Dezembro de 1940. 
(HoM: as lentidão nas obras da Catedral e da Câmara explica-se pelo control que o governo exercia sobre a dívida pública e porque ocorreram durante a segunda guerra mundial).
Com o prolongamento da Av. Aguiar através da antiga Rua da Fonte feito pouco antes, a nova Praça ligava-se à Praça 7 de Março, o inicial centro cultural e social da cidade e que na ponta sul tinha a outra única estátua de pessoa existente que era de António Eneso Comissário Régio em Moçambique em 1895.
LM era considerada urbanísticamente monótona e pobre em edifícios e monumentos e este novo eixo entre a Baixa e a alta permitiria ver a nova Câmara a partir do estuário. LM era também considerada pouco portuguesa o que se tentava corrigir.
A Praça chamada de Mousinho de Albuquerque tinha também função importante na organização do tráfego automóvel (os carros eléctricos tinham deixado de circular em 1936) e tinha um complexo desenho de entradas, saídas e ilhas ajardinadas ou pavimentadas com calçada portuguesa, que foi da responsabilidade dos serviços locais.
Estátua equestre de Mousinho de Albuquerque
na parte central da nova Praça virada para sul. 

No plinto/pódio do monumento vê-se o bronze "Chaimite" e à frente a Alegoria que se detaca a seguir:
A alegoria da Civilização vista para leste
Cerca de 1949. Deste ângulo vê-se a estátua equestre, 
o painel Chaimite no plinto/pódio e a alegoria virada a sul para a Av. Aguiar/D.Luis
Surge ao fundo da praça, para nordeste, o prédio Funchal cerca de 1961.
Em termos de mapas aqui temos a situação bem visível do antes (1925/26) e depois (1940) da construção da Praça. Note-se que o edifício da Veterinária tinha sido o antigo Hospital Civil e Militar:
à esquerda: na zona antes havia um cruzamento de 4 vias
à direita: depois dos trabalhos passou a haver a Praça com rotunda
vermelho: Av. Aguiar, actual Samora que com a nova praça
passou a ser o eixo monumental da cidade
círcunferências amarelas: à volta do antigo local e depois da Praça construída
outras cores: vias que se mantiveram antes e depois 
dos arranjos urbanísticos definitivos na zona
Agora a foto do lado nascente = leste da Praça junto à catedral e que permite ver como ela se formou neste seu quadrante sudeste junto ao Club Hotel/Hotel Clube:
marcas correspondentes às do mapa de 1925/26 acima do Club Hotel
(ver nessa mensagem na última foto como era esta esquina, com o hotel ao fundo):
vermelho: parte norte do traçado da Av. Aguiar que foi absorvido pela Praça
verde: parte oeste do traçado da actual Rua da Rádio que foi absorvido pela Praça
Na foto de cima, do lado poente = oeste da Catedral começa a Av. Anchieta, actual Palme subindo para a Av. 24 de Julho e a alta da cidade.
Vista da Av. Aguiar/D. Luis/Samora ao afastarmo-nos da Praça
descendo para a Baixa (sul). Club Hotel/
Hotel Clube antes da Praça, à direita
Uns trezentos metros mais para sul na actual Av. Samora.
Vista iluminada festiva da estátua, da Câmara
 e da avenida original quase completa
Nas mensagens seguintes iremos ver muito mais imagens semelhantes a estas com vistas da Praça e das suas redondezas.

Comentários

Anónimo disse…
Muito obrigada nao so por estas fotografias mas tambem pelas explicacoes. Este site Housesofmaputo tem sido excelente e tenho por isso posto a minha visao de Lourenco Marques antiga em ordem. Bem Haja