Fábricas de Gelo e Águas Minerais de Lourenço Marques, actual Maputo - CAVALLARI/DICCA

Já vimos que o complexo fabril da ex Fábrica de Cerveja Reunidas (agora SABMiller) que resultou da fusão da Nacional de Dicca e da Vitória de Cretikos é o sucessor da Fábrica Vitória. 
Mas onde era e o que se passou com a Fábrica Nacional de Dicca? Suponho que terá sido desactivada entre 1938 quando Dicca e Cretikos fizeram um acordo (ver outro artigo) e o ano de 1953 em que as duas empresas se fundiram, mas não há mais elementos que o possam confirmar no Livro De Ouro de Maria Helena Bramão que é a base destes conhecimentos.
Começamos com foto da fábrica de gelo e refrigerantes de F. Dicca publicada por Santos Rufino em 1929:

FOTO 1. 
Fábrica de gelo Dicca que não era localizada por Santos Rufino
Noto que o Livro de Ouro diz que a fábrica de refrigerantes de Cavallari (que foi comprada por Dicca em 1920 e de qual foi formada em 1922 a Fábrica de Cerveja Nacional - ver no entanto textos em baixo) se situava na Av. Paiva Manso mas também sem lhe dar localização mais precisa. 
Do livro de Augusto Massari "Os Italianos em Moçambique na Época Portuguesa (1830-1975)" mas retirado deste artigo podemos ver um anúncio dessa fábrica Jolanda de Giuseppe Cavallari (e do sócio Miglietti e que tinha sido antes de Tonetti). Como ficava na Av. Paiva Manso certamente seria a fábrica que esteve na origem da Cerveja Nacional em 1922.  


ANÚNCIO 
Fábrica Jolanda na Av. Paiva Manso antes do fabrico de cerveja
A partir da foto de cima deste anúncio da fábrica Jolanda (de gelo, águas minerais e xaropes, mais frigoríficos suponho para aluguer) não se pode dizer se o seu edifício seria ou não predecessor da fábrica da FOTO 1 mas podemos colocar como hipótese que o local fosse o mesmo.
Consultando o mapa da cidade de 1925/26 está marcada uma Fábrica de Gelo na Av. Paiva Manso que deve então ser a Cavallari/Dicca e teria sido a Jolanda de que se falava acima. Isto porque no mapa só está marcada outra Fábrica de Gelo que é a de Cretikos/Fábrica Vitória e as fábricas de gelo deviam ser demasiado importantes na altura para que outra existisse sem estar marcada no mapa.  


Mapa de L.M. em 1925/26 com 
FABRICA DO GELO na Paiva Manso
verde: antiga Av. Paiva Manso, actual Magaia
vermelho: antiga Av. 5 de Outubro, actual Josina
amarelo: aqui Av. Fernão de Magalhães ainda incompleta
rectângulo azul: Fábrica de Gelo em 1926
Como era nessa zona do rectângulo azul a localização aproximada do restaurante Cervejaria Nacional que F. Dicca manteve individualmente mesmo depois da criação da Reunidas, não arrisco muito a dizer que a Fábrica Dicca da FOTO 1 e a Jolanda do anúncio devem ter sido no local marcado a azul. Pela FOTO 1 o terreno da fábrica teria pelo menos uns 50 metros de frente e era a descer como de facto acontecia com a Av Paiva Manso
Podemos ver a imagem do quarteirão actual da Cervejaria Nacional (o restaurante) e em que reproduzi a marcação da Fábrica de Gelo do mapa de 1925/26:


FOTO 2 de Google Earth
preto: local da fábrica de gelo desenhado no mapa
outras cores: como no mapa
O limite inferior da fábrica de gelo não corresponde à divisão dos edifícios actuais, mas isso pode dever-se a estes mapas antigos não terem grande precisão. Se virmos bem o prédio no segundo quarto do quarteirão é uns metros saliente em relação ao resto das fachadas e é nesse prédio que estava a Cervejaria Nacional (restaurante). Não sei que significado ou importância terá isso
Em baixo está o prédio que fica no limite da metade norte do quarteirão actual da Cervejaria Nacional.
FOTOS 3 e 4

Supostamente a antiga Cervejaria Nacional (o restaurante)
Parte da Fábrica Jolanda/Nacional teria sido onde é o edificio das FOTOS 2 e 3 e para norte daí = para a esquerda da foto. Estes edifícios da foto podem ser dos anos 20/30 como a fábrica, mas não se consegue ver pontos de semelhança com os da FOTO 1 que por exemplo não tem colunas como estes têm.  Para se tirar conclusões definitivas sobre se ainda existem partes da fábrica actualmente, só indo ao local e a olhar para os prédios que existem e compará-los com a FOTO 1. 
A imagem seguinte mostra o quarteirão da Fábrica Nacional à esquerda visto de cima (acima da antiga Av. 5 de Outubro, actual Josina) a baixo (Av. F. Magalhães).


FOTO 5
Vista acima do cruzamento com a antiga 5 de Outubro 
(indicado em 2 partes, laranja a norte e roxo a sul).
foto www.sulafrica.blogspot.com
Ver imagens da metade sul (marca roxa na foto) do quarteirão aqui.
Ver artigo relacionado aqui.

OUTROS ELEMENTOS sobre a fábrica Jolanda/Nacional
Trabalho de estágio na Universidade EM de Lilandoma, Titos Albino que é estudante de Quimica mas faz uma introdução histórica no seu trabalho cientifico
http://www.saber.ac.mz/bitstream/10857/4147/1/AWA%20LILA%20FINAL%20%283%29.pdf
História da Cerveja em Moçambique: A produção da Cerveja Clara em Moçambique desenvolveu-se a partir da Indústria de Fabrico de Gelo ... introduzida em Moçambique em 1897. ... Em 1915, o Italiano Guissepe, representante da “Fábrica de Gelo Yolanda” ganhou o direito exclusivo de produzir Cerveja Leve. .. Em 1920, Filipe Dicca ganhou o direito de produzir Cerveja Clara durante 10 anos na então Cidade de Lourenço Marques. Filipe Dicca foi considerado o pioneiro da indústria de cerveja, pois ele importou tecnologia de produção de cerveja usada na altura e técnicos experientes da Namíbia. Em 1935, o volume de produção foi de 500 000 litros (Anónimo, 2006).
HoM: Guiseppe era o Cavallari mencionado em cima mas não se percebe bem como é que Dicca é o pioneiro se Guiseppe ganhou o direito antes. Talvez seja como diz no Livro de Ouro que Dicca comprou a fábrica e isso se combine com o facto que associada veio uma licença que Cavallari teria. 

MAPA EMPRESARIAL DE MOÇAMBIQUE de John Sutton
http://personal.lse.ac.uk/sutton/mozambique_portuguese_edn_updated_version_web.pdf
Filipe Dicca, de nacionalidade albanesa, estabeleceu-se em Lourenço Marques em 1898 com a idade de 24. Em 1920, adquiriu uma fábrica de refrigerantes de um empresário italiano, esta fábrica foi mais tarde transformada numa fábrica de cerveja, onde era produzida a marca ‘Cerveja Nacional’. Para construir a fábrica de cerveja, Dicca adquiriu uma cervejaria que se encontrava em decadência localizada na actual Namíbia e transportou todas as suas instalações e seu equipamento para Moçambique. Para apoiar este investimento, Dicca obteve do então Alto Comissariado o direito de fabricação exclusiva por dez anos. 
No início do século XX, um imigrante grego chamado Cretikos, que vendia água doce de porta em porta em Lourenço Marques, percebeu que não existia gelo disponível localmente para conservar os peixes descarregados todos os dias nas docas da cidade. Em 1912, Cretikos abriu a primeira fábrica do país de gelo e de água engarrafada, em frente ao porto. Esta empresa chamava-se Victoria Gelo e Fábrica de Água e foi um sucesso imediato. Dentro de poucos anos, esta empresa começou também a produzir refrigerantes. Em 1932, Cretikos viajou para a Alemanha para recrutar um mestre cervejeiro que desenvolveu uma cerveja de estilo europeu que Cretikos chamou ‘Laurentina’, em referência a Lourenço Marques, onde era localizada a fábrica. A marca foi bastante bem sucedida, conquistando seis medalhas de ouro no Monde Selection, de Bruxelas.
Em 1938, a fábrica que produzia a Cerveja Nacional de Dicca fundiu-se com a Fabrica de Cerveja Vitória do Cretikos, criando Fábrica de Cervejas Reunidas (SOGERE).
HoM: o que de novo se lê aqui é que a marca Laurentina pertencia à Fábrica Vitória i.e. não foi uma criação da Reunidas.
Aqui diz "Em 1912, Cretikos abriu a primeira fábrica do país de gelo e de água engarrafada" mas T. Lilandoma em cima diz "Indústria de Fabrico de Gelo ... introduzida em Moçambique em 1897" o que dá um intervalo de dúvida de 15 anos.

http://ma-schamba.com/tag/augusto+massari
Comerciantes e industriais (italianos) que marcam a paisagem urbana e social da cidade: Giuseppe Cavallari, fundador da “A Nacional” a primeira marca de cerveja moçambicana, que resultaria da fábrica Jolanda. (http://www.academia.edu/2061257/A_Oeste_do_Canal_Textos_Sobre_Mo%C3%A7ambique_)

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